Já perceberam como é cada vez mais difícil assistir a um filme no cinema? Fui ver Harry Poter com meus filhos. Como comprei pela Internet, a entrada foi tranquila, fora o roubo pelo preço da pipoca e da água. Mas isso era uma opção.
Já sentados, atrás de nós, um casal abriu um saco de lanchonete e sacou hambúrgueres e batatas fritas, o que impregnou a sala de cheiro insuportável. Vai passar, pensei. É só rezar para que, quando o filme começar, a comilança tenha chegado ao fim.
Quando o casal se fartou e estalava a língua para limpar os dentes, um rapaz sentou-se ao lado com um balde de pipocas e um tonel de refrigerante e, enquanto comia e bebia, comentava com a namorada, alto, cada cena do filme.
Estamos perdendo a cerimônia em público. Cerimônia é a qualidade de se constranger e saber como se comportar de modo a não incomodar os outros. Mas parece que a regra é não ter constrangimento.
Tudo parece permitido e o que interessa é estar como se estivéssemos em casa. Isso é falta de educação. E o pior é que quem se incomoda passa a ser o desagradável, o constrangedor da liberdade.
É como o cara honesto que vira estorvo para a bandalheira. É a inversão dos valores. A perniciosa mistura do que é público e privado nas mais altas esferas da república também tem sua versão comezinha, na sala de um cinema ou nos teatros, onde o celular é sacado sem nenhuma cerimônia.
Não tenho nenhum falso pudor politicamente correto em afirmar que é preciso constranger as pessoas a se comportarem com educação e proibir a vontade alheia quando ela obriga os outros a uma intimidade indesejável.
Texto de Moacyr Góes...
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