-“Aquele seu dinheiro na poupança, aquela sua moto, aquele seu carro, aquele seu apartamento… entregue para o senhor! Ele te dará em dobro e você estará a salvo no reino dos céus”. – Ao digitar o tema: “Estelionato nas igrejas” no site youTube vários vídeos desta lamentável prática são encontrados. Abusando da fragilidade emocional e até mesmo da ignorância das pessoas algumas igrejas usam a fé como uma ferramenta eficaz na obtenção de lucro. Neste sentido, até que ponto uma instituição religiosa deve estar amparada pelo art. 19 da Constituição Brasileira ou enquadrada no art. 171 do código penal?
Evidentemente que o debate entre ciência e religião – quando contido de argumentação inteligente e respeitosa – é bastante profícuo para a sociedade. Quando, porém, o diálogo dá lugar à imposição ideológica, então a autonomia do ser humano se perde e é ferida. Desta forma, no momento em que uma instituição que se diz religiosa usa de argumentos ilógicos, porém persuasivos, para a obtenção de um dinheiro não tributado e prometendo, para tanto, a salvação divina, fica bem claro a tipificação do ato criminoso de estelionato (art. 171 do Código Penal Brasileiro).
Por outro lado, é necessário enaltecer o trabalho de instituições sérias que recebem dinheiro e prestam contas de sua movimentação financeira, tendo na ação prática a concretização do seu discurso. Até porque quando isto não ocorre a hipocrisia fica caracterizada, como por exemplo, uma pessoa promíscua falar de fidelidade; um inadimplente que passa cheques sem fundos falar de responsabilidade; o agressor da esposa falar de valores da família; etc.
Felizmente o Brasil é um Estado laico que prima pela liberdade de escolha e prática religiosa do seu povo, apesar de concessões públicas de canais de TV aberta para algumas igrejas específicas. De um modo geral, este país tem uma população que convive pacificamente com a diversidade cultural e religiosa, ao contrário de alguns países com religiões fundamentalistas que justificam a guerra por causa da interpretação equivocada de seus livros sagrados. É importante, contudo, salientar que há no Brasil um mascaramento do estelionato travestido de fé, em que a “salvação” é vendida como maçã em feira. Isto num processo de lavagem cerebral de pessoas – na maioria das vezes humildes- que estão perdendo o patrimônio em detrimento da riqueza de verdadeiros ladrões que se dizem profetas. Por fim, urge o Ministério Público avaliar até que ponto tais instituições estão perto do art. 19 ou do 171, isto porque um país sério não se constrói com golpistas.
Texto de: Hermison Frazzon da Cunha
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